Mas, caso os ladrilhos não estejam bem encaixados, a análise de um deles pode nos dar a ideia incerta sobre a posição do seguinte. E, à medida que nos afastamos do ladrilho inicial, podemos perder completamente a informação de onde o próximo ladrilho deverá estar. Nesse caso, dizemos que o comprimento de correlação é finito.
No caso extremo – ladrilhos simplesmente jogados um ao lado do outro –, a posição de um deles não nos diz nada sobre a dos outros. O comprimento de correlação é zero.
Agora, podemos voltar à questão que lançamos acima: o que simetrias e comprimento de correlação têm a ver com o ponto crítico da água? Nesse ponto, o comprimento de correlação se torna grande – tecnicamente, dizemos que ele diverge –, e o sistema não tem mais uma escala de comprimento, ou seja, mesmo pontos muito distantes entre si estão correlacionados. Surge uma nova fase da água.
A consequência disso é que o sistema líquido-vapor pode ser descrito matematicamente por uma teoria que é invariante por transformações conformes. E, aqui, entra o tão importante conceito de simetria: surgem novas simetrias no sistema, a chamada invariância conforme, que nos permite estudar com precisão quantitativa o ponto crítico.
Até aqui analisamos o que se passa com a água. Mas o surpreendente (e belo) é que a mesma linguagem usada para descrever o ponto crítico da água pode ser empregada para descrever o que se passa em outros sistemas físicos bem diferentes, como um ímã.
Apesar de toda familiaridade que temos com ímãs – basta olhar para uma geladeira… desde os ímãs que prendem a porta até aqueles que seguram lembretes e desenhos –, a explicação de como ‘funcionam’ não é tão simples.
Essencialmente, um ímã é formado por ‘mini-ímãs’, que têm sua origem em propriedades dos elétrons e dos átomos em si. Sabemos que um ímã tem um polo norte e um sul, mas isso só ocorre caso os mini-ímãs estejam orientados em uma direção. Se estiverem distribuídos aleatoriamente – imagine-os como diminutas bússolas cujas agulhas apontam em várias direções –, seus efeitos se cancelam. Resultado: o ímã macroscópico não vai atrair agulhas, pregos etc. Ou seja, não será um ímã.
Seria possível restaurar a magnetização, a propriedade que faz um ímã atrair outros metais?
A resposta é sim. Basta reduzirmos sua temperatura, o que fará com que cada mini-ímã ‘sinta’ os companheiros em sua vizinhança e comece a se alinhar com eles – nesse caso, teríamos todas as agulhas das diminutas bússolas apontando em uma única direção.
Para os ímãs, há também um ‘ponto crítico’ – no caso, temperatura crítica. Abaixo dela, o sistema se magnetiza. É nesse ponto (ou temperatura) que o comprimento de correlação se torna grande (diverge), pois mesmo mini-ímãs distantes apontam para a mesma direção. Com isso, surge uma nova simetria no sistema: sim, a invariância conforme.
Apesar de os dois sistemas (transição líquido-gás na água e magnetização de um ímã) serem tão distintos, a descrição teórica dos dois é semelhante. E não só de forma qualitativa: eles têm várias propriedades matemáticas em comum, as quais variam segundo as mesmas leis. Dizemos que pertencem à mesma classe de universalidade.