Desvendando os mistérios do cosmos há 40 anos

Departamento de Física
Universidade Federal de São Carlos (SP)

Um adolescente interessado em ciência viu sua vida transformada por uma revista brasileira de divulgação científica na década de 1980. Anos depois, já cientista e professor, tornou-se colunista da publicação, atividade que, segundo ele, tem o poder de mudar vidas

FOTO:ADOBE STOCK

O ano era 1982. Um adolescente que morava em uma pequena cidade próxima à capital paulista tinha grande fascínio pela ciência. Havia descoberto as maravilhas da natureza por meio da fantástica viagem proporcionada pelo astrônomo norte-americano Carl Sagan (1934-1996) na série Cosmos. Aquela experiência foi tão impactante que ele criou um clube de astronomia para poder também contar para outras pessoas o quão maravilhosa e bela é a ciência.

Naquele tempo, existiam poucas revistas nas bancas que apresentassem a ciência de forma acessível. A maioria eram edições estrangeiras traduzidas para o português. Mas o adolescente encontrou uma revista brasileira que trazia a ciência ao alcance de todos e, ainda, com artigos de cientistas brasileiros.

Tratava-se da Ciência Hoje! Vinte e quatro anos depois, em junho de 2006, o adolescente, que tinha virado cientista, foi convidado a contribuir para esse espaço extraordinário de disseminação da cultura científica, que sempre lhe deu liberdade para abordar qualquer tema e expressar opiniões, contando com o auxílio de dedicados editores.

A cada mês, um novo desafio surge: contar sobre o fascinante mundo da física e astronomia. Muitos desses textos se tornaram material de apoio para dezenas de livros didáticos, apareceram em concursos públicos e vestibulares e foram reproduzidos em inúmeros blogues e redes sociais.

Para recriar as ideias de diferentes teorias físicas – de forma que elas possam ser compreendidas, sem a necessidade de conhecimentos matemáticos sofisticados –, é preciso conhecer profundamente o tema e exercer a criatividade, para conseguir aproximar leitores e leitoras do tema.

No caso da teoria da relatividade restrita, do físico de origem alemã Albert Einstein (1879-1955) – baseada em dois princípios fundamentais de grande alcance e consequências –, é necessário desenvolver a intuição. Esses princípios são expressos da seguinte maneira: i) as leis da física devem ser as mesmas em todos os referenciais inerciais, ou seja, para quem está ou parado, ou se movimentando com velocidade constante; ii) a velocidade da luz no vácuo (cerca de 300 mil km/s) é sempre a mesma, independentemente do referencial em que ela é observada.

Como esses princípios são válidos simultaneamente, temos como consequência algo que é (muito) contraintuitivo: tanto o espaço quanto o tempo deixam de ser absolutos e se tornam relativos (daí o nome da teoria) a cada observador – em termos simples, o espaço pode se contrair, e o tempo, se dilatar.

Além disso, quando se inclui a necessidade de eles também satisfazerem outros dois princípios básicos da física (conservação da energia e quantidade de movimento), surge como conclusão que massa (m) e energia (E) são equivalentes, segundo a mais famosa equação da física: E = mc2 – no caso, ‘c2’ é a velocidade da luz no vácuo elevada ao quadrado.

Embora essas ideias sobre espaço e tempo possam parecer surpreendentes (ou mesmo perturbadoras), elas representam o modo como a natureza se comporta. E esse comportamento já foi comprovado uma infinidade de vezes. Por exemplo, experimentos mostram que a luz sempre tem a mesma velocidade (cerca de 300 mil km/s). Mais: aceleradores de partículas funcionam de acordo com essas ideias e têm mostrado que a compreensão da natureza está muito além do modo como as percebemos no cotidiano.

Em todos estes anos, o maior retorno que já tive como divulgador da ciência foi quando um de meus alunos, ao fim de uma disciplina que eu lecionava, disse-me que tinha optado por estudar física na universidade porque tinha lido artigo de minha autoria na Ciência Hoje – e que fazia questão ser aluno daquele que lhe havia inspirado a seguir essa carreira.

Em todos estes anos, o maior retorno que já tive como divulgador da ciência foi quando um de meus alunos, ao fim de uma disciplina que eu lecionava, disse-me que tinha optado por estudar física na universidade porque tinha lido artigo de minha autoria na Ciência Hoje

Essa declaração mostra o quanto é importante esse trabalho de disseminação do conhecimento científico para o grande público. Essa nobre tarefa é capaz de transformar vidas – e, como consequência, nosso próprio país.

Por isso, espero que a Ciência Hoje continue desvendando os mistérios do cosmos do conhecimento por muito tempo. Vida longa e próspera para a Ciência Hoje!

“A Terra é um organismo vivo”. Essa foi uma das

contribuições teóricas e filosóficas do geólogo escocês

James Hutton (1726-1797) sobre a dinâmica geológica

do planeta. Seu foco estava nos processos.

“A Terra é um organismo vivo”. Essa foi uma das contribuições teóricas e filosóficas do geólogo escocês James Hutton (1726-1797) sobre a dinâmica geológica do planeta. Seu foco estava nos processos, fluxos e na transformação da matéria que modela a superfície terrestre ao longo do tempo geológico – processos e fluxos que permanecem ativos desde a formação do planeta até hoje.

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