E se eu encontrar um animal marinho debilitado?

Cátedra Unesco para Sustentabilidade do Oceano, Rede Ressoa Oceano

Cada vez mais tartarugas, baleias, pinguins, entre outras espécies, são encontrados feridos, doentes ou mortos no litoral brasileiro

CRÉDITO: ADOBE STOCK

Uma tartaruga com o casco quebrado, uma baleia presa em uma rede de pesca, um pinguim encalhado na praia. Infelizmente, situações como essas têm se tornado cada vez mais frequentes no litoral brasileiro, segundo o Projeto de Monitoramento de Praias (PMP), um programa obrigatório nas áreas de exploração e produção de petróleo e gás no Brasil. Por diferentes motivos, animais marinhos — como mamíferos, tartarugas e aves — são encontrados doentes, feridos ou mortos.

Esses encalhes podem ocorrer por causas naturais, como a separação de filhotes de suas mães, erros de rota migratória, exaustão ou dificuldade para encontrar alimento. No entanto, grande parte está relacionada à ação humana: ingestão de plástico, emalhe em redes de pesca, poluição, entre outros fatores.

Um exemplo recente foi o aparecimento de pinguins no litoral de Alagoas. O primeiro caso foi registrado em 26 de julho, na Praia do Gunga, e o segundo em 31 de julho, na Praia de Riacho Doce. Ambos eram da espécie pinguim-de-magalhães (Spheniscus magellanicus). O primeiro ainda estava vivo e foi resgatado; o segundo já foi encontrado sem vida.

Esses pinguins são aves oceânicas que não voam e vivem exclusivamente no Hemisfério Sul – assim como todas as 18 espécies de pinguins –, nas águas do Atlântico e do Pacífico, especialmente nas costas de Argentina, Chile e Ilhas Malvinas. Medem cerca de 70 cm, pesam 5 kg e nadam em bandos, usando suas asas adaptadas como nadadeiras, alcançando até 40 km/h e mergulhando até 90 metros. Costumam nidificar em colônias, em ninhos no solo ou em tocas.

O período reprodutivo vai de setembro a fevereiro. Após essa fase, a maioria dos pinguins, principalmente os jovens, entra em migração para o norte, concentrando-se nas águas costeiras de Argentina, Uruguai e regiões sul e sudeste do Brasil. Durante o inverno, esses jovens viajam em busca de alimento, como peixes e cefalópodes.

Há menos de 20 anos, estados do Nordeste e do Norte, incluindo Alagoas, nunca haviam registrado a presença dessa espécie de pinguim, mas os registros desses animais encalhados no litoral nordestino têm aumentado. A maioria dos encalhes envolve animais com menos de 1 ano de idade, realizando sua primeira migração oceânica. Entre os fatores que contribuem para esse fenômeno, estão a perda de rotas migratórias, escassez de alimento, poluição, pesca predatória, mudanças climáticas e exploração de petróleo e gás.

Esses animais funcionam como sentinelas do oceano, indicando o estado de saúde do ambiente marinho. Diante dessa realidade, foi criada a Rede Brasileira de Atendimento a Encalhes e Informações de Pinguins (REPIN), conforme a Portaria ICMBio nº 565, de 22 de fevereiro de 2023, com o objetivo de melhorar a gestão da conservação da espécie no Brasil.

Além disso, o Plano de Ação Nacional para a Conservação das Aves Marinhas (PAN Aves Marinhas) está em seu segundo ciclo (2024–2029), com estratégias prioritárias para 14 espécies ameaçadas e três espécies consideradas “beneficiadas”, incluindo o pinguim-de-magalhães, a cagarra-de-cabo-verde (Calonectris edwardsii) e a grazina (Gygis alba), todas categorizadas como Quase Ameaçadas (NT).

 

O que fazer ao encontrar um animal marinho debilitado?

Se você se deparar com um animal marinho em situação de risco, siga esse passo a passo:

  1. Mantenha distância
    Aproxime-se o mínimo possível e oriente outras pessoas a fazerem o mesmo. O animal pode estar assustado, doente ou reagir de forma agressiva. Evite contato direto.
  2. Contate o serviço de resgate
    Para resgatar um animal, há diferentes protocolos, que mudam conforme a espécie e a situação. Profissionais capacitados sabem como proceder em cada episódio. No litoral de São Paulo, há o Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos. No Nordeste, destaca-se a atuação do Instituto Biota, que resgatou o pinguim da Praia do Gunga.
  3. Isole a área e mantenha o animal calmo
    Proteja o animal de pessoas, cães ou outros animais. Se possível, delimite a área com cordas. Se não tiver algum recurso de isolamento, utilize estratégias como banco de areia para criar um perímetro de segurança. Fale baixo e evite movimentos bruscos.
  4. Não o devolva à água ou coloque no gelo
    Um animal na praia pode estar debilitado. Forçá-lo a voltar ao mar sem avaliação pode ocasionar sua morte. No caso de pinguins, nunca os coloque em caixas com gelo — apesar de serem aves de clima frio, já estão adaptados ao calor e podem sofrer hipotermia.
  5. Não alimente o animal
    A alimentação inadequada pode prejudicar sua recuperação. Apenas especialistas devem oferecer alimento, de acordo com a espécie e condição clínica.

E o que acontece depois?

Animais marinhos resgatados são levados para centros de reabilitação, onde recebem tratamento veterinário, alimentação adequada e monitoramento. A liberação de volta à natureza só ocorre após avaliação criteriosa, seguindo protocolos estabelecidos para cada espécie. Quando não é possível a soltura ao seu habitat natural, o animal pode ser destinado a instituições como aquários ou centros de educação ambiental.

É importante lembrar que alguns encalhes ocorrem naturalmente. No entanto, a ação humana ainda é a principal causa desses eventos. Precisamos refletir sobre nosso impacto e exigir políticas que reduzam os danos ao ambiente marinho e à sua fauna.

Há menos de 20 anos, estados do Nordeste e do Norte, incluindo Alagoas, nunca haviam registrado a presença dessa espécie de pinguim, mas os registros desses animais encalhados no litoral nordestino têm aumentado

*A coluna Cultura Oceânica é uma parceria do Instituto Ciência Hoje com a Cátedra UNESCO para a Sustentabilidade do Oceano da Universidade de São Paulo e com o Projeto Ressoa Oceano, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

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