Com mais de 50 anos dedicados ao estudo do sistema imunológico, pesquisadora relembra a falta de estrutura da graduação e suas experiências ao conciliar trabalho com maternidade no exterior, além de ressaltar seu prazer em ensinar.
Em 1966, ingressei na graduação em Ciências Biológicas – modalidade Médica da então Universidade do Estado da Guanabara – hoje Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Era um curso pioneiro. A meta era formar pesquisadores na área biomédica. Minha escolha foi influenciada pela biografia de Marie Curie e outros cientistas famosos.
Éramos a segunda turma de um curso não estruturado. A maioria dos 70 alunos era de ‘excedentes’ da Medicina. Só 15 se formaram. Mulheres eram minoria, mas, com exceção de uma menina que abandonou o curso, sete se graduaram. A falta de estrutura nos tornou autodidatas. Logo no primeiro ano, procuramos laboratórios extra-muros para estagiar.
No segundo ano, estagiei no Departamento de Microbiologia da Uerj. Foi onde descobri o sistema imune, ainda que lá ele só servisse como ferramenta para exames e não fosse visto como um sistema fisiológico comparável aos outros sistemas do corpo (circulatório, respiratório etc).
Minhas incursões à biblioteca revelaram que havia mais. Sim, naquele tempo, íamos à biblioteca. Nada de Google. Folheando Nature e Science, nossa cultura científica se ampliava. Assim, descobri que tudo parecia revolver em torno da imunologia. Uma imunologia sem agentes patogênicos. Era isso que eu queria conhecer melhor.
Fui, então, estagiar com o doutor Hugo Castro Faria no Centro de Pesquisa Básica do Instituto Nacional de Câncer (Inca), e conheci o doutor Nelson Vaz, influência marcante na minha decisão de fazer pesquisa. Com ele, também participei de um grupo que, pela primeira vez no Brasil, introduziu a disciplina de Imunologia isolada da Microbiologia, como um sistema por si só; isso aconteceu na Universidade Federal Fluminense. Montar do nada um laboratório que funcionasse foi uma façanha. O estudo era incessante, estávamos na idade de ouro da imunologia! Tudo ocorria quando o Brasil e o mundo viviam momentos tensos. Estávamos em 1968.