O ambiente é a academia e, como em qualquer outro, as poses espontâneas são exaustivamente ensaiadas para o corpo parecer perfeito nas selfies e a postagem nas redes sociais resultar em muitas curtidas. Hoje, esse comportamento é corriqueiro em qualquer faixa etária.Mas, na adolescência, período em que meninos e meninas estão formando a identidade e o corpo, a preocupação com a aparência não raro é extremada. Influenciados pela mídia e submetidos a padrões estéticos e sociais, muitos adolescentes iniciam uma rotina de exercícios físicos em busca de emagrecimento e/ou ganho de massa muscular, seguindo informações adquiridas na internet, aplicativos e similares. Fica a dúvida: há riscos com a prática da musculação em nessa faixa de idade?
De acordo como Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a adolescência compreende a faixa etária entre 12 e 18 anos de idade. Para a pesquisadora do Departamento de Biociência da Atividade Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Verônica Salerno Pinto, o interesse pela musculação nesta etapa da juventude tornou-se algo bastante comum nos grandes centros urbanos,sobretudo a partir dos 15 anos,visando ao emagrecimento e à hipertrofia muscular.
É justamente na faixa dos 15 anos de idade, com o amadurecimento hormonal do eixo hipotalâmico hipofisário gonadal (responsável pela ampliação das características sexuais secundárias: aumento dos pelos, dos seios, do pênis e da massa muscular), que a prática da musculação pode ser indicada – embora, em algumas situações a indicação possa ocorrer antes, obedecendo a um período maior de recuperação entre os treinos. O objetivo desse tipo de exercício é iniciar o desenvolvimento de uma memória muscular para toda a vida. Ou seja, fazer com que as fibras musculares tenham capacidade de obter resultados mais rápidos no futuro pelo fato de o indivíduo ter começado uma rotina física na adolescência. Desta forma, após a maturação sexual e neural completa, que ocorre dos 18 aos 21 anos, as pessoas terão melhores resultados com a prática da musculação para o ganho de massa muscular.
Melhora do equilíbrio e maior desenvolvimento ósseo são outros benefícios verificados com a prática da musculação a partir dos 15 anos.No entanto, esses benefícios também são obtidos através de exercícios chamados calistênicos, aqueles que utilizam apenas o peso do próprio corpo com intuito de fortalecer e melhorar os movimentos e contribuir no desenvolvimento de memória muscular. Esse tipo de exercício também reduz os riscos e prejuízos que musculação feita sem orientação pode trazer ao adolescente. Cabe registrar, porém, que os movimentos calistêmicos, em certo grau, podem acarretar sobrecarga maior do que os exercícios com implementos de máquinas, portanto também deve-se ter cautela ao recomendar este tipo de treinamento.
Os riscos da prática de musculação na adolescência dependem da carga usada nos exercícios.Os problemas mais drásticos costumam ocorrer entre 12 e 14 anos, faixa de idade em que não há resultados de hipertrofia e, portanto, a musculação com essa finalidade não é indicada. Sem alcançar seus objetivos estéticos, os jovens aumentam cada vez mais a carga dos exercícios, resultando em prejuízo para articulações e ligamentos. O problema também pode ocorrer após os 15 anos, se o adolescente não respeitar a carga que lhe foi indicada na série de musculação.
Sobrecarregar articulações e ligamentos na adolescência, quando não obedecido o tempo de intervalo ideal entre as sessões de treino, pode resultar em problemas ainda mais graves, como a redução do crescimento normal. Isso ocorre porque as placas de crescimento epifisário, que se fecham por volta dos 21 anos de idade, tendem a se fechar mais cedo em razão da diminuição do fluxo sanguíneo no local, que gera compressão exagerada e lesão.
Outro problema frequentemente identificado entre praticantes de musculação, principalmente jovens e adolescentes, é a crença em informações equivocadas sobre recursos ergogênicos (suplementos alimentares, como proteínas, que podem sobrecarregar os rins),uso de termogênicos (que aceleram o metabolismos e podem provocar problemas no cérebro e no coração), hormônios (análogos da testosterona, que visam ao aumento da massa muscular, mas podem sobrecarregar fígado e coração e aumentar a propensão a doenças como câncer)e ênfase numa alimentação com excesso de proteínas, que, vale reforçar, pode acarretar uma sobrecarga dos rins e problemas metabólicos. O correto é realizar um acompanhamento nutricional com profissional especializado.
Entre 12 e 14 anos, faixa abaixo da que a musculação é indicada, existe uma euforia em torno da premissa de que a atividade física estimula a produção do hormônio do crescimento, o GH.De fato isso ocorre, porém, qualquer atividade física nesta idade não potencializa o crescimento longitudinal, dado que a faixa de crescimento para cada pessoa é fisiológica e depende de fatores genéticos. Em algumas patologias específicas, há indicação de musculação para essa faixa etária com o objetivo de evitar a perda de massa muscular, a atrofia, mas a indicação é para que os exercícios praticados sejam aeróbicos – como a prática de esportes em grupo, que possuem outras valências e trazem benefícios tanto físicos como psicológicos e sociais.
Para a pesquisadora Verônica Salerno, dentro da idade indicada para a prática de musculação, os exercícios devem ser de poucas repetições e cargas mais altas, dentro do limite indicado, ou de carga mais baixa e muitas repetições, sempre seguindo as orientações de profissional capacitado. Respeitar o número de séries e o intervalo de descanso,além de aderir a uma nutrição adequada e balanceada, é o que traz resultados duradouros.
Ainda de acordo com a pesquisadora, as academias costumam dispor de profissionais capacitados para uma orientação correta quanto aos exercícios de musculação para adolescentes, considerando riscos e benefícios. No entanto, a grande maioria dos estabelecimentos não está preparada para receber esse público, porque o número de profissionais não é suficiente para toda a demanda.Há riscos de exercícios mal feitos, uso de carga exagerada ou realização de movimentos errados, acarretando prejuízos para a saúde dos adolescentes.
Com base nessa realidade – que combina jovens ansiosos na busca pelo corpo perfeito, influência de grupos de amigos e redes sociais, além de desinformação sobre os riscos e benefícios associados à musculação –, podemos considerar a importância dos professores de biologia e educação física na orientação dos adolescentes sobre os aspectos fisiológicos, hormonais e as condutas técnicas necessárias para a prática de adequada de exercícios físicos. Seriam muito bem-vindas no Ensino Médio, portanto, ações interdisciplinares para alertar os adolescentes sobre o que a musculação pode ter de bom e de ruim. O propósito seria evitar condutas ilícitas de rápidos resultados, mas com danos irreparáveis em longo prazo, e, ao mesmo tempo, incentivá-los a dar a devida atenção aos músculos, beneficiando-se no presente e no futuro.
Suellen Pereira Pinto Rodrigues,
aluna do Mestrado Profissional em Ensino de Biologia em Rede Nacional (ProfBio)
*Artigo resultante de entrevista com a pesquisadora Verônica Salerno, da Universidade Federal do Rio de Janeiro
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