Por que eu tenho que estudar física, química ou biologia? Onde vou aplicar tantas fórmulas? De que adianta decorar tantos nomes? Essas são algumas das perguntas que quase todo mundo que passou pela escola já se fez.
O argumento mais usado por professores costuma ser o utilitarista: ‘a matéria cai na prova’ ou ‘o conteúdo é cobrado no Enem’. Esse tipo de justificativa pode até gerar uma conformação parcial dos estudantes, mas faz com que eles passem a enxergar o aprendizado de ciências como só mais um degrau no caminho, como um mero meio de se chegar a outro lugar. O aprendizado deixa de ter uma razão própria para existir.
Mas, se você gosta de filmes, séries, quadrinhos e tudo que envolve cultura pop e, se você quer ser um indivíduo autônomo, livre e resistente às manipulações mentais de um supervilão qualquer, então você deve aprender ciência o quanto antes.
Normalmente, associamos ‘aprender ciência’ ao ato de decorar muitos nomes e conceitos novos. No entanto, além de conhecer os conteúdos mais específicos de cada disciplina escolar, aprender ciência também significa aprender como esse conhecimento, que chamamos de científico, é obtido e o que o torna válido, o que garante que ele é verdadeiro.
Existem muitas formas de entender a natureza e chegar a conclusões sobre seu funcionamento. Mas os métodos desenvolvidos pela ciência vêm se mostrando especialmente eficazes, basta ver o enorme desenvolvimento científico-tecnológico que a humanidade experimentou desde a aurora da ciência moderna.
Mesmo assim, a ciência não é infalível, já errou muitas vezes e está sujeita a constantes mudanças. Assim, aprender ciência é também saber que o conhecimento evolui, que aquilo que acreditamos ser verdade hoje pode mudar amanhã. E que, ao mesmo tempo, as descobertas já feitas – e que já passaram por incontáveis escrutínios pelos cientistas – são aceitas como bases sólidas sobre as quais novas hipóteses podem ser elaboradas.
Saber ciência é também saber que o conhecimento científico não avança de forma neutra, livre de interesses externos, nem de forma regular e constante, e pode trazer tanto benefícios quanto malefícios. Uma guerra ou uma pandemia, por exemplo, são contextos de massivos investimentos em ciência e tecnologia. Uma doença que atinge a população de um país mais rico é alvo de muito mais estudos do que uma doença mais frequente em países e populações mais pobres.
Por fim, saber ciência é, sobretudo, ser capaz de tomar decisões baseadas em evidências científicas, avaliar decisões políticas que envolvam ciência e, com isso, participar mais ativamente da democracia.
Em muitas histórias da ficção, o desabrochar dos poderes de um super-humano costuma ser confuso, descontrolado e incompreensível, quase como uma puberdade. Nem todo mundo que desenvolve – ou nasce com – superpoderes tem total controle sobre eles logo de início. Em X-Men, por exemplo, muitos mutantes chegam a frequentar a escola do professor Xavier, com o intuito de aprenderem a controlar seus poderes e não serem controlados por eles (e nem causarem acidentes drásticos nas ruas).
Da mesma forma, o nosso cérebro é praticamente um superpoder, que nos diferencia profundamente dos demais primatas e seres vivos em geral. Por isso, como todo superpoder, a capacidade de pensar e tomar decisões também precisa ser dominada. E uma importantíssima defesa contra supervilões do mundo real – que, porventura, tentem nos manipular de alguma maneira – é o conhecimento.
Imagine que um prefeito resolva instalar uma antena de celular na sua vizinhança. Para convencer você, diversos argumentos são usados, inclusive argumentos aparentemente científicos. Sem ter nenhum conhecimento sobre ciência e sem saber buscar uma fonte válida de informação científica, como você e os demais moradores da vizinhança serão capazes de formar uma opinião a respeito da antena? Será que ela vai fazer mal à saúde das pessoas ao redor? Será que o sinal de celular nas redondezas vai ser muito melhorado? Será que os equipamentos eletrônicos poderão sofrer algum tipo de interferência? Como os moradores desse bairro poderão posicionar-se conscientemente e com base em suas reflexões próprias a respeito da instalação da antena? Como poderão exercer o seu direito democrático, se não souberem avaliar se a decisão trará mais benefícios ou mais malefícios?
E se você se visse diante de outras situações em que o governo ou uma empresa desejassem instalar uma usina nuclear, uma usina hidrelétrica ou um aterro sanitário na sua cidade, ou lançar inúmeros satélites no céu para melhorar a internet, ou decretar a obrigatoriedade da vacinação das pessoas e o uso de termômetros infravermelhos diretamente na testa? Você teria condições de discutir sobre eventuais riscos dessas medidas para o meio ambiente e para a saúde da população? Saberia propor alternativas? Teria condições de questionar um argumento científico dado por um político? Ou, ainda, saberia discernir se os argumentos usados são, de fato, científicos e válidos?
Não saber nada sobre ciência é sujeitar-se à opinião e aos interesses de outras pessoas, é dar uma procuração a alguém para exercer, no seu lugar, o seu direito à democracia. Assim, saber ciência significa ter mais autonomia, mais liberdade, além de uma visão muito diferenciada sobre o funcionamento da natureza.
Estudar ciência é como ler literatura. Se você começa com livros difíceis e longos, que tratam de temas que não te agradam e que possuem muitas informações e personagens, você poderá chegar à conclusão de que ler é chato, que ‘não é para você’. Mas isso não é verdade. Qualquer pessoa tem potencial para se interessar por leitura, assim como qualquer pessoa tem potencial para se interessar por ciência. Basta buscar assuntos que te agradem, começar pelo que é mais simples e fácil, começar por temas que dialoguem com a sua realidade.
Uma maneira interessante de se iniciar no universo da ciência são os filmes, séries, livros e quadrinhos. Esses meios, inclusive, levaram muitos cientistas a se interessarem por ciência, como já mostramos em outro texto. Muitas são as histórias que, mesmo não tendo a ciência como protagonista, recorrem a ela para justificar fenômenos e dispositivos que não existem (ou não existiam) no mundo real.
Quando vemos um super-herói que fica invisível, podemos nos perguntar: como alguém poderia ficar invisível no mundo real? O que é exatamente ‘ficar invisível’? Será que algum cientista já tentou fazer isso? Se uma pessoa fica invisível com o uso de uma roupa especial, será que ela continuaria enxergando o ambiente externo? Se a ciência fosse capaz de replicar esse poder da invisibilidade, ele seria usado por quem e com que finalidade? A invisibilidade seria mais usada para o bem ou para o mal? E se o governo decidisse investir milhões de reais em uma pesquisa para desenvolver uma roupa de invisibilidade, você apoiaria?
As histórias da ficção podem ser ótimas geradoras de perguntas e grandes motivadoras para você aprender cada vez mais sobre a natureza. E, para ser um bom estudante de ciência (e até um bom cientista), basta saber fazer boas perguntas sobre a natureza e saber como ir atrás das respostas. Se as respostas para suas perguntas já existem na ciência, você precisa saber encontrá-las; mas, se suas perguntas nunca foram respondidas satisfatoriamente pelos cientistas, por que não formular as suas próprias hipóteses para respondê-las?
Realmente, estudar ciência com o único objetivo de passar de ano não é nada motivador. Mas pode ser muito motivador estudar assuntos científicos de seu interesse para descobrir, por exemplo, se algum dia você poderá ter algum superpoder. E, se me permite um spoiler: muitos superpoderes da ficção vêm sendo estudados há muito tempo pela ciência, como o poder de teletransporte, de atravessar paredes, de ficar invisível, de ter superforça, de regenerar seu corpo e curar-se de uma doença. Então prepare suas melhores perguntas, porque a ciência tem muitas respostas – e novas perguntas – incríveis para te oferecer!
Lucas Mascarenhas de Miranda
Físico e divulgador de ciência
Universidade Federal de Juiz de Fora
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Davi
so li porque fui obrigado mas o texto é bem legal
Maria Alice Silva Santos
Meu comentário é realmente pq não fazer uma roupa que tenha invisibilidade
Elaine
Muito interessante o conteúdo. O estudo da ciência está para além do obvio.