Cátedra Unesco para Sustentabilidade do Oceano, Rede Ressoa Oceano
Instituto Oceanográfico
Universidade de São Paulo

Diversos fatores contribuíram para que o oceano passasse a ser considerado um espaço de prazer, que agora enfrenta desafios de conservação de ambientes costeiros, respeito às comunidades locais e sensibilização dos turistas

CRÉDITO: VISTA AÉREA DE NORTH MIAMI BEACH – SUNNY ISLES BEACH / FOTO ADOBE STOCK

O oceano nem sempre foi visto como lugar prazeroso. Na Idade Média, era considerado um ambiente amedrontador pela crença em seres mitológicos. Mas, na Idade Moderna, a partir do século 18, eis que o oceano se transforma no imaginário das pessoas, tornando-se um local de admiração estética e favorecendo o desenvolvimento do turismo.

Diversos fatores contribuíram para uma mudança de percepção sobre o oceano. Pela medicina, por exemplo, passaram a ser recomendados banhos de mar como prática de saúde e bem-estar. Foi então que o deslocamento para o litoral se intensificou, resultando nos primeiros balneários. Do ponto de vista socioeconômico, a revolução industrial transformou cidades em locais poluídos e superpovoados, estimulando as elites a buscarem um reencontro com a natureza idílica em paisagens litorâneas ou campestres. Posteriormente, as viagens chegaram às classes trabalhadoras, inclusive aquelas com organizados sindicatos, que construíram colônias de férias predominantemente no litoral. Na oceanografia, uma das ciências mais recentes, novas descobertas têm contribuído para desmistificar os olhares equivocados sobre o maior ambiente da Terra.

Nesse contexto, o turismo, entendido como as viagens de lazer, é um fenômeno moderno, construído por novos valores socioeconômicos e culturais; e o litoral é um dos principais motivos desse fenômeno. Assim, os pesquisadores passaram a denominá-lo ‘turismo
de sol e praia’.

E o que esse turismo tem de especial? Pesquisas científicas mostram que os sons produzidos pelo oceano acionam uma área do cérebro associada à emoção e à autorreflexão, sendo o som das ondas, com vibração de frequências harmônicas em intervalos regulares e fáceis de ouvir, relaxante, capaz de reduzir as taxas de cortisol e, consequentemente, o estresse. As ondas também produzem íons negativos, que proporcionam a chamada “sensação de paz”. Já a superfície “plana” do oceano nos permite a visão do horizonte, com uma paisagem ampla que tende a ser tranquilizadora. A praia e o mar potencializam sensações sinestésicas pelo quente e áspero da areia, pelo frio e suavidade da água, entre outros fatores.

Passeios ao litoral, também permitiram novos modos de vida, consolidando atividades de relaxamento, do ver e ser visto, do glamour, da descontração, entre outras. Todas elas continuam atraindo pessoas em busca de lazer e recreação — como esportes náuticos, banhos e pesca amadora, ou seja, atividades que trazem benefícios psicológicos e físicos.

Contudo, para atender o fluxo de visitantes, criou-se uma rede de apoio, muitas vezes com inadequadas urbanizações, sem preocupações ambientais ou paisagísticas. E a partir daí, surgem problemas ambientais, sociais e econômicos, como: intensificação do consumo de recursos naturais; exploração do solo e transformação da paisagem; aumento da produção de resíduos sólidos e efluentes líquidos; alteração de ecossistemas naturais; perda de valores tradicionais; aumento do custo de vida, supervalorização dos bens imobiliários e desterritorialização de moradores antigos; geração de fluxos migratórios para áreas de concentração turística; além de adensamentos urbanos não planejados e favelização.

O século 21 apresenta um desafio no planejamento e na gestão do turismo no litoral, que deve considerar, pelo menos, três aspectos. Primeiro, a conservação dos ambientes costeiros, porque as infraestruturas de lazer e turismo não podem ultrapassar a capacidade de resiliência dos ecossistemas naturais – do contrário, destrói-se o que se quer usufruir. E já há um conjunto de técnicas oriundas de estudos de impacto ambiental, que devem ser realizadas por uma equipe multidisciplinar.

O segundo aspecto diz respeito às comunidades locais: é preciso entender a diversidade sociocultural para garantir o acesso aos recursos daqueles que são excluídos dos processos decisórios ou incorporados nas atividades como meros serviçais, ofertando-lhes empregos mais justos e diminuindo a desigualdade local.

Por fim, os turistas precisam ser sensibilizados quanto às características das cidades litorâneas e locais mais frágeis. É possível desfrutar a paisagem interagindo com o ambiente de praia e mar com conscientização. Um bom exemplo é a oferta de passeios que permitam apresentar aos visitantes, por meio de atividades de educação não formal (via lazer), a diversidade, as características da natureza e as ações humanas adequadas para o local. Assim, as pessoas podem ter acesso ao descanso e à diversão, mas também a uma reflexão sobre os ambientes visitados.

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